Coleccionador de vazios
colecciono o tempo que não tenho
esse que não uso na esperança do depois
lá fora existe o mundo e a esperança de chegar,
existes tu e os braços abertos,
existem as raízes pela verdade,
e uma imobilidade que prende…
deitou-se no horizonte o medo
asas da alma que te elevam
sem que partas a lugar algum,
bosques de silêncio onde te fitam os olhos
ribeiros mansos que correm
por ente avencas que se agitam, uma sombra
de um sol que não nasceu
não senti o seu calor na face
mesmo assim desejei-o
permanece vazio esse espaço…
permitir que os relevos tenham relevo,
que as cores tenham luz e as noites alvura
existindo, aparentemente, só para que essas possam existir
de resto, não somos nós feitos de pó como as estrelas
no leito despido das noites?
o vazio dos dias que nos adormece…
sem esse abraço cheio que nos ampara
coleccionamos esperanças
com medo de caminhar descalços
com medo das pedras e dos espinhos
ganhamos vazios, perdemos vidas cheias…
há em nós esse inercia do partir sem bagagem
esse medo de viver que nos prende a uma morte lenta…
eu, um medroso coleccionador de vazios, com medo de viver…
Alberto Sousa
28/05/2022
Poemas de nada que se perdem na calçada
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