Ancorado a este momento…
larguei a âncora neste mar interior
fundeado neste passado e no agora
nesta sonolência adormecida morremos
morremos estando vivos sem ter vivido
tudo vem da certeza do que sabemos
desses telhados de vidro que não queremos partidos
e amamos pela metade sem nunca nos entregarmos
pelo medo de um suposto amanhã que desconhecemos
[ergue-se o poeta e fala, como quem sabe]
é noite escura e estou sozinho
aqui, neste lado, neste pequeno canto no fundo da sala
olham-me como se soubessem que eu sei de alguma coisa
-eu que não sei nada e finjo tudo dominar…
que até o prazer finjo sentir com medo de falhar…
quem me dera ser mulher e voar…
poder ser multi-coisas, apenas por olhar…
e pelo sonho que se faz aqui
naquela superfície clara quando ela se afastar e
abrir a porta para sair de casa murmurando:
tudo vem ao chamamento por dentro do clamor da noite
-eu que nunca chamei ninguém…
apenas a desejei chamar…
ela que me foi implementada no cérebro por um outro útero…
[e vivo ancorado a este momento com medo de sonhar o impossível]
Alberto Sousa
27/03/2022
Poemas de nada que se perdem na calçada
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