…se escrevessem de mim, seria meramente um ponto
ali, escarrapachado no fundo da folha, no canto inferior direito…
talvez tivesse um traço hirto por cima
que admiração, um ponto… e tudo era ele, apenas final…
vieram os dias e as noites e a moléstia do conformismo
e as palavras que vagueiam ausentes, sem um calor que as ergam
já não me advém os sonhos, ou o desassossego da criação
as coisas são o que são, e tu morreste… nem um adeus…
nem uma carta, uma despedida… simplesmente desististe de acordar…
atiro-me para uma rua vazia, que nunca me leva a lugar algum,
nem mesmo esse parapeito alto da janela fechada,
em aros verdes e vidros transparentes,
que ocultam o azul que se faz reflexo olhar
nitidamente os passos dados nunca significam nada,
no sonho, nem a queda do precipício deste pesadelo sem fim que é a vida…
ainda que as nuvens me amparem,
por entre beijos salgados e lágrimas de amor,
juras eternas e tempos perdidos no transito por uns meros vinte minutos,
sim vale a pena, ainda vale a pena…
já as lagrimas da saudade essas, jamais se apagaram
e as velas ardem iluminando as noites em perfumes de canela e maça…
neste tempo quase tão irreal quanto o sonho, nada é, que não o façamos…
e eu? que tão pouco sou e quase nada faço… apenas sobrevivo ao tempo…
esse que passa sem mácula, esse em que estamos presos dentro de nós mesmos
revelando que afinal nada somos, nem número… apenas um ponto…
no final da folha… no canto inferior direito…
Alberto Cuddel
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