Há quem sofra, e eu? Eu não…
aquela malícia incerta
e quase imponderável
que alegra qualquer coração humano
ante a dor dos outros, e o desconforto alheio,
ponho-a eu no exame das minhas próprias dores,
nessa comparação tosca das minhas com as deles…
ante o que me doi e o que te doi,
desdenho das tuas, mas jamais as minhas ofereço
tenho o dom de sofrer, às vezes silenciosamente
quieto, sem inquietar, mesmo que apenas me doa a alma…
dói-me que alguém sofra pela minha dor
pelos meu sofrimento… prefiro ser a montanha
essa cápsula que guarda dentro de si um vulcão
sobre uma estrutura cerebral gélida… impassível…
abstraio-me das necessidades humanas
das necessidades de homem, de alma…
deixo que tudo seja o que desejam que seja…
anulo-me na nulidade da existência sofrida
mas são aparentemente felizes…
e eu aparentemente não me doi
e aparentemente não sofro…
tudo porque me revolta
aquela malícia incerta
e quase imponderável
que alegra qualquer coração humano
ante a dor dos outros, e o desconforto alheio…
dói-me essa alegria mesquinha diante da dor do outro…
Alberto Sousa
Poemas de nada que se perdem na calçada
16/12/2021
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