Alma rasgada pelos espinhos da vida
cravei a fogo em lapide inclusa
rip aqui jaz um poeta sem versos…
esperei como quem espera o tempo que basta
como se o amanhã fosse agora e já não houvesse segredos
as árvores agitavam-se adivinhando o futuro
e partiam as andorinhas… as cegonhas, ai as cegonhas
e as garças e os patos… todos partiam…
e eu? e tu… ficamos ali, indiferentes ao passado que mudou
a um presente que não existe, a um futuro perdido…
e calaram-se os versos…
teceram uma coroa com os silêncios
e coroaram-no de espinhos…
as palavras trespassavam-lhe a carne
as metáforas, queimavam-lhe a pele
e as ironias e hipérboles secavam-lhe a garganta…
pelas três da tarde, chegaram-lhe à boca um poema,
a custo declamou um verso e expirou…
a biblioteca adormeceu, rasgada ao meio
entre a dor da perda, e a certeza de viver nela tudo o que sobra…
a palavra ressuscitou o poeta…
Alberto Cuddel
11/06/2021
03:00
Alma nova, poema esquecido – III
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