Esse ventre esquelético que me pensou…
nascem as nuvens rasas a oeste
nessa poeira continental que me invade
sou a cor do tempo que me fez
eu que fugi do homem e povoei o inóspito
eu que me fingi crente que inventei deuses
– que rasguei cânons pela promessa de lucro
quantas vezes idolatrei esse ventre esquelético que me pensou?
arte ilusória de brincar com o pensamento enganando as palavras…
de que me valem os pactos com o inimigo, se negoceio com deus
a paz com o diabo…
pudesse eu aniquilar-me no desejo de deixar de existir,
dar corpo à antimatéria que me corroí as entranhas.
pudesse eu imobilizar-me no desejo apenas de estar quieto,
até que o coração abrandando o ritmo, parasse nas batidas sincronizadas.
pusesse eu tornar-me folha em branco
onde coubessem todas as ideias do mundo,
para que o pensamento se desligasse
depois de tudo isto nasceria, não pela arte aleatória da fecundação
mas pela matemática do pensamento fecundo…
depois de nascer, seria poeta, desses que escrevem poemas perfeitos
com métricas perfeitas e rimas sonoras, ricas claro,
que rimas pobres não fazem história…
escreveria sobre o sol, pois o sol existe…
mas escreveria apenas de dia
porque aqui, aqui de noite o sol não brilha…
nascem as nuvens rasas a oeste
nessa poeira continental que me invade
sou a cor do tempo que me fez
um poema no deserto que agita as canas…
Alberto Cuddel
20/04/2021 01:55
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha LV
Adoro
GostarLiked by 1 person
Muito obrigado amiga
GostarGostar
Republicou isto em escreversonhar and commented:
Um lindo poema de um poeta que muito admiro.
GostarLiked by 1 person
Obrigado de coração amiga!
GostarGostar