Poética II
Somos as minúsculas letras de um livro, que juntos nos fazemos poema!
quando chegamos, a sensação do privilégio
somos mais altos, de toda a nossa estatura
apenas porque fomos, tínhamos esse destino
tudo estava destinado a ser certo, concreto
há galáxias dentro do peito, mas as estrelas?
sempre brilharam não com hidrogénio ou hélio
mas pelo oxigénio dos teus beijos, pelo amor…
eis-me aqui confiante diante deste lago esverdeado
barco sem velas, mas de leme fixo
[não chove,]
sem lágrimas a saudade suicida-se a cada olhar
nesse abraço elevado a cada chegada, e beijas-me
[enquanto o comboio avança]
há essa incógnita que nos arranca do peito sorriso
enquanto as árvores se agitam na montanha
e as nuvens brindam o nosso encontro
os rostos beijam-se, e mãos dadas olhamos a distância…
sabes Maria, possuis em ti todas as consoantes, os sinais ortográficos…
em mim apenas as vogais, pontos de exclamações e finais…
ainda sim sei que te faço sorrir, enquanto tento contar enxames de abelhas
ou aqueles bandos de pardais inquietos…
deita-te comigo…
pelo menos hoje enquanto olhamos o céu…
olhemos juntos os amores prefeitos a abriram antes de ontem
e as tulipas… matemos a saudade… que ela morra eternamente…
nós que somos as minúsculas letras de um livro,
que juntos nos fazemos poema, também somos vida em galáxias de amor…
[que a liberdade nunca nos seja roubada,
para podermos juntos olhar o nada!]
Alberto Cuddel
27/02/2021 13:56
In: Entre o escárnio e o bem dizer,
Venha deus e escolha XXXVI
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