A nobreza das palavras livres
a realização sem a mácula da realidade é o amor
amo o poente e o amanhecer, porque não há utilidade, nem para mim, em amá-los
nessa liberdade absurda de nos confinarmos em nós mesmos
o resto é a vida que nos deixa, a chama que morre no nosso olhar,
as cores da morte da noite ou a púrpura gasta antes de a vestirmos,
a lua que vela o nosso abandono, as estrelas que estendem o seu silêncio
há uma mágoa que paira sobre a nossa hora de desengano.
assídua a mágoa estéril e amiga que nos aperta ao peito com amor.
tinha uma aversão visceral pelas palavras que se espraiam
nessa fluidez filosófica da metafisica poética e ao mesmo tempo
não tendem para o infinito os poemas?
meu destino foi outrora em vales fundos, voos altos
desertos imensos e sonhos áridos, nessa busca pelo oásis
o som de águas que nunca sentiram sangue rega o modo dos meus sonhos.
o copado das árvores nessa absorvência do sentir alheio, um sequestro negro
que esquece a vida era verde sempre nos nossos esquecimentos.
sinto perante o rebaixamento dos outros não uma dor,
mas um desconforto estético e uma irritação sinuosa.
não pelo conhecimento empírico do que sei,
mas pela ignorância de não saber o que ainda não li…
não é por bondade que isto acontece,
mas sim porque quem se torna ridículo não é só para mim que se torna ridículo,
mas para os outros também,
e irrita-me que alguém esteja sendo ridículo para os outros,
dói-me que qualquer animal da espécie humana ria à custa de outro,
quando não tem direito de o fazer
porque a ignorância não é um defeito, às vezes até uma virtude
quando ela é exercida com humildade…
não sei escrever metricamente, – não sei
isso não me faz superior ou inferior
nem ridículo, nem ignorante
apenas revela uma inadaptação a um conhecimento…
vedaste o jardim floridos dos versos, blindaste as palavras de alfazemas
na vocalização és… sempre foste poeta
há uma nobreza em quem martela a língua de artifícios gramaticais
mas não há espanto, e é o espanto que me absorve diante
no descrever vagaroso do florir de uma violeta…
amo o tempo e o tempo que ele demora, o poema…
esse florir das palavras até se tornarem semente…
Alberto Cuddel
01/11/2020
18:50
Poética da demência assíncrona…
Muito bom, Alberto!
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Muito obrigado amiga Dulce!
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Sabes escrever e isto é o que importa…. A métrica pode ser dispensada…
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Muito obrigado amigo Estevam enorme abraço deste lado do Atlântico
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Por aqui dizemos: tamos juntos…
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Boa noite, Alberto, escrever por si, só, é uma arte, metricamente ou não, o que vale é sentir e revelar
os sentires e as vivências com as nobres notoriedades de um escritor. Grande abraço.
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Muito obrigado Miriam, enorme abraço!
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