Se quereis conhecer-me…
se quereis conhecer-me não me procureis nas ambiciosas palavras
nos versos que grito ou nas palavras que calo
procurei-me nos silêncios… nessa visão oculta do feminino da alma…
na fragilidade da vida, morro… como se morre ao nascer, morrendo semente…
e o rio corre diante do murmúrio da saudade da chegada
há uma palavra que escorre por entre a vida do deslumbramento
uma lágrima que escorre na clareira enquanto voa um condor que espera…
no corpo quente de sereia que me encanta, em silêncio fecho os olhos
repudio a consequência e sonho-me livre, diante da abstinência
nos silêncios que grito, escorrem-me mentiras nos versos que declamo
no antagonismo da morte, vivo amplamente o prazer de estar vivo
penso sem consequências a hipótese da comprovação científica
pela experimentação do resultado confirmo,
grito mais nos silêncios do que nas palavras em que minto…
não sente o poeta o que escreve?
mas desce ao inferno na busca da dor perfeita, da repulsa e do grito…
se querei conhecer-me, descalça-me, veste a minha vida e percorre os meus caminhos…
abraça-me, abraça-me longamente o silêncio
e porque me quis a alma, assim o fiz, de mim mentindo
tudo afirmei, dizendo toda a verdade ou meramente o seu oposto…
e olho a sorrir o titulo da folha…
e sei que nem mesmo eu me conheço
apenas por que ainda me procuro onde nunca estive…
Alberto Cuddel
10/11/2020
23:30
Poética da demência assíncrona…
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