Comentar ou não comentar eis a questão (ou as inconformidades da amizade)
Tenho me deparado várias vezes com respostas a comentários que faço a alguns poemas que leio, que me deixam verdadeiramente atónico, entendo que por norma um poema não é uma mensagem fechada ou hermética emanada pelo autor e dirigida ao leitor, a poesia é uma leitura livre, que na emoção das palavras nos permite a liberdade segundo a nossa herança emocional e de vivências, de uma interpretação livre externa ao autor que o produziu, sendo assim qual a razão de existirem autores que me corrigem a interpretação? Para isso não deviam escrever poesia, mas sim contos ou cronicas, a leitura poética é na sua essência um acto de liberdade.
Determinadas situações como essas deixam-me melindrado ao emitir opinião sobre um poema ou prosa poética, pois existem “poetas” que não permitem que o poema sobreviva por si mesmo, fecham a percepção das suas palavras ao seu mero entendimento emocional, e na poética, o que é para um motivo de lágrimas, para outro pode ser um motivo de regozijo, de celebração, o que para um é dor, para outro é amor…
Por isso faço-vos um apelo, cresçam com as várias formas de interpretação da vossa poética, não corrijam a interpretação, o poema é um livro aberto à imaginação, o poema depois de lido deixa de pertencer ao autor, faz parte de algo maior, faz parte da língua e do sentir colectivo.
A maioria de nós não vibra com comentários do género: “lindo”; “excelente”; “perfeito”; “maravilhoso”. Não é esse o comentário que nos faz grandes, que nos faz crescer, mas sim o comentário que nos dá algo de novo, que nos mostra outro caminho, que nos mostra que o leitor dialogou com a palavra, que leu e se emocionou, que leu e compreendeu segundo a sua forma de viver e percepção do mundo que o rodeia.
Se alguma vez ofendi alguém num comentário, peço desde já desculpa e perdão, mas por favor deixem-me ler e interpretar livremente sem que seja forçado a navegar pelo poema como se o mesmo fosse um caminho imutável… pois todo o poema é um caminho numa floresta, cheio de atalhos e sombras, cheio de luz e de escuridão, entre o tudo e o nada o poema é, meramente a verdade, a totalidade do seu oposto.
Permitam-me ter ainda a liberdade de dizer e pensar segundo o que sou…
Alberto Cuddel
19/05/2020
#textosdetudooudealgumacoisa
De minha parte, quase nem comento, gosto de ver forma e conteúdo – vício de professora mesmo. Do que escrevo, fico interessada sim na emoção que provocou em quem me leu. Muitas vezes, com tão outras réguas e compassos. Ah, escrevo sem régua, compasso, nem tenho intenção de vender prosa e verso. Escrevo, lê quem quiser.
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Por uns bons 10 anos de minha vida me embrenhei a fundo nos meios acadêmicos (da graduação, á especialização ao mestrado e me cansei um pouco desta coisa de tudo ter que ser interpretado e explicado), talvez, por isso, eu tenha retomado a poesia em minha vida, com o intuito simples de escrever livremente sem aquelas amarras acadêmicas… Você foi muito polido, ao ler o título (lá vai uma interpretação rsrsrsrrsrsrs) imaginei que fosses ser mais incisivo… Da banda de cá acho que entendi muito bem o que escrevestes… Assino abaixo…
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Grato, os escritos deixam de ser nossos a cada vez que são lidos, e a interpretação não é uma questão académica, mas sim uma herança emocional adquirida… Enorme abraço.
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Muito bem dito… Gostei muito desta ideia de ‘herança emocional adquirida’… Pode patentear pra ninguém copiar… rsrsrsrs
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Meu caro, ninguém sentiu o que o outro viveu, ele irá interpretar cada palavra segundo as suas emoções, e não pelo significado da própria palavra. Exemplo para mim a palavra “respeito” tem um significado imediato “medo” para outros será amor ou deferência, para mim é medo, aprendi a respeitar o meu pai pelo cinto, a professora pela régua, a catequista pela cana, respeito é violência e dor. E nem falo na ditadura. Isso é “herança emocional adquirida”.
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Aprendizado puto, Alberto… Aprendendo na muitas leituras que faço e nas muitas experiências que tenho…Seu post, muito me ensina… Fraterno abraço.
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Poxa vida… saiu puto e não puro… rsrsrsrssrs Não sei se aí tem o ,mesmo sentido daqui… rrsrsrsres desculpe-me…
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Não bem a mesma coisa mas entendi. Enorme abraço.
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Ainda bem… Quando digito pelo celular, o corretor sempre apronta estas rsrsrsrsrs
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Eu penso que um comentário é algo muito abrangente, ou seja, pode fazer “crescer”, pode complementar o post e pode naturalmente expressar um sentir espontâneo. Todos são importantes.
Pessoalmente (e porque parto sempre do principio que as pessoas são verdadeiras), um comentário sintetizado em…”lindo”…”excelente”..”perfeito”…ou “maravilhoso” é tão valioso como um comentário mais estruturado e que me faça pensar.
Para mim, o primeiro sentir, sem racionalizar, é o mais genuíno e tem imensa força. E essas simples palavras solitárias podem ser a melhor expressão desse puro sentir. Eu sinto assim, e por isso as valorizo quando as “dou” ou quando as “recebo”.
Achei o post muitíssimo interessante. Mas a diversidade humana é bem real, pelo que não podia deixar de comentar o quarto parágrafo….com mais algumas palavras!
Desejo um bom domingo!
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Sem duvida, extremamente grato pela sua atenção e comentário para comigo!
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Penso que só quem sabe exatamente o que escreveu é o autor. Os demais, só podem interpretar. Por favor, fiquem à vontade para interpretar meus escritos e comentar. Afinal, por (para) isso postamos.
Aliás, aproveito o ensejo para agradecer ao poeta Alberto Cuddel por me ler.
Abraço a todos os poetas.
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Os escritos são sempre abertos a novas interpretaçoes por isso os publicamos, as palavras ganham novos significados dependendo do leitor. Abraço
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De facto “lindo”, “excelente”, “perfeito” não dizem nada sobre um poema e são até motivo de frustração para quem espere um feed-back.
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Muito obrigado pelo comentário deixado
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