Tempo morto em que vivo, debruçando-me à janela
de manhã se acordo, não morri
e eu que pedi, não voltar a nascer…
assim é a essência da realidade o existir,
não o ser pensada, apenas sentida,
assim tudo o que existe, simplesmente existe
o resto é uma espécie de sonho que temos…
a vida é um sofrimento sentido ou olhado
vista do lado de dentro da janela…
janelas verdes e altas, de outro tempo ou da aldeia
e da janela do meu quarto vejo…
um rei ser esventrado, um presidente baleado
ou assaltante enforcado e um inocente condenado à morte
sorte do tira dentes que desmaia ao ver sangue…
sorte a da vizinha que lhe corre entre as pernas
sorte a da alcoviteira que tem o que contar…
todos sabem tudo, o que viram e o que contaram
nunca a verdade, nunca a realidade, mas o que inventaram.
e a china matou os velhos… não os novos que os infectaram…
mas os chineses… não a ganância dos empresários, mas os chineses…
tempo morto em que vivo, debruçando-me `a janela
de lembro-me de cair, vertiginosamente, na direcção de uma folha de papel pardo e ser palavra, vomito…
Alberto Cuddel
06/05/2020
23:00
In: Nova poesia de um poeta velho
Intenso
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Muito obrigado querida amiga, enorme abraço
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Outro
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gosto de ler como se fosse um livro, cada post uma página. tenho feito isso com vários poetas e contistas e tem siso uma experiência maravilhosa. tua poesia, como bem disse a Alda, é intensa. é de uma palavra que vai descortinando caminhos por dentro dos pensamentos e do coração, revela tanto do interior quanto do exterior e se instala com sua densidade no que há de mais vívido na poesia. muito obrigado, Alberto. um grande abraço.
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Um enorme obrigado meu caro amigo, a poética que tento praticar, tem sempre o foco na densidade do sentir, transcrevendo a realidade natural para a complexidade da alma. Enorme abraço.
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