A sala de espera rude, fria, sem qualquer consideração pelo estado de ansiedade dos pacientes que ali esperam, uma sala despida, quase o prelúdio de uma morgue. Fazia dois meses que o João tinha abalado todas as minhas certezas, todo o meu mundo. Em plena diversão íntima, ele detivera-se num dos peitos, ficando a olhar para mim atónico. – Então? Que foi? O que aconteceu? Ele simplesmente continuava em silêncio, olhando-me, como se tivesse encontrado um segredo, que nem sob tortura o revelaria, o seu semblante fechou-se de tal forma, que eu própria senti medo. – Encontrei um nódulo no teu peito. Agora entendia o medo. – Não, deves estar enganado. – Estou a falar a sério, tens… Após um breve exame, todos os medos se confirmam. Como se o mundo desabasse sobre nós. Tudo nos passou pela cabeça naquele momento. – Amanhã vamos ao médico! Parece-vos uma frase simples, mas para mim foi tudo, não foi um vais, ou um tens de ir, mas um vamos. – Sim, sem dúvida, devemos saber o que é isto o quanto antes! No dia seguinte, fomos ao médico, tudo foi posto claramente em cima da mesa, desde o pode ser um nada, até o ser um tudo. Marcou-se então um batalhão de exames, que nos trouxeram hoje aqui. Podia ter sido um tempo duro, mas o João tem sido um apoio fantástico, como sempre, mesmo nos piores cenários é capaz de me arrancar um sorriso. Quando o equacionei sobre a possibilidade de ser submetida a uma mastectomia, a resposta dele foi, “porreiro, menos uma distração, assim posso concentrar-me apenas num, afinal só tenho uma língua e uns lábios”. Sem ele todo o meu mundo já teria ruído apenas nas suspeitas. Finalmente o médico chama. – Bom dia! – Bom dia! Então Sr. Dr. Já há resultados? – Já! E podem voltar a sorrir, as notícias não podiam ser melhores! – Então é benigno? – Não, é apenas um quisto de fácil resolução. Muitos parabéns! Nem todos os maridos têm essa capacidade de detecção. – Bem, também não é motivo para te babares, afinal o proveito era teu. Soltamos uma gargalhada, foi um peso do tamanho do mundo que nos saiu de cima. – Muito obrigada Sr. Dr. – Passe pelo balcão para marcar a remoção. E continuem assim. – Sem dúvida, mais uma vez obrigada. Aquela sala despida tinha mudado, já nem os bancos de madeira castanha me pareciam tão impessoais, tão rudes. – Olha, sabes uma coisa? Podias avisar as tuas amigas das minhas capacidades. – Como?! Andas a querer andas! Gargalhada geral!
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