Vício jogado
rio manchado pelo sangue negro do fogo
ardem-me as mãos calejadas pela insignificância
atravessam a rua pés descalços, filas sem destino
pensam que pensam livremente, enganados
presos a consciência do nada, que nada elegem…
tocam bateria no quarto andar, e eu moro em moradia
que me importa o ruído da noite, se eu durmo de dia
e tudo é tão sujo este chão, mas não me curvo
apenas olho o céu, e o fumo que sobre mim se abateu
há portões que se fecham, e reclamam da eras do muro
dos assalariados governamentais, e doutros deputados tais
viciam os jogos, vencendo os mesmos
e aplaudem como roubos adestrados
sorrindo na sua artificial liberdade
falam, discutem ameaçam com greves
mas vergam-se a falta de pão individual
o colectivo nada é, irmãos, quais irmãos
viva a meritocracia do ter, não do merecer
que me importas que morras aqui ao lado
escrevo, rio, bebo e fodo…
o resto, o resto são danos colaterais sem sentido
que a mim, a mim, nada me incomoda
das palavras que não leio, para não saber…
Alberto Cuddel
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