Delação
na cobardia aponto o dedo
não escreves, escreves falsamente
na tacanhez da cobardia, acuso antes de ser
[condenado
eu tantas vezes vil, tantas vezes culposamente
[criminoso
corrompem-me copiosamente numa lágrima
dessa puras que nos nascem no íntimo
os silêncios mordem-me as canelas
a indiferença, (ai a indiferença, essa apodrece-me)
ardem velas e oram aos santos, malditos ateus
tudo pela imagem
( e batem no peito e clamam por santa barbara)
pobres, pobres actores das palavras doentes
e crêem, e choram, e tem pena do poeta
e ele, ele ri por dentro
e ama, como se alguém nunca assim tivessem amado
até ao fim,
até ao ponto de exclamação!
depois, depois apaixonam-se de novo
(outra mulher, outro poema)
condenem-me, enjaulem-me, sentenciem-me
mas eu, eu cobardemente irei delatar,
na cobardia aponto o dedo!
Alberto Cuddel
Deixe uma Resposta